Nós amamos demais...





Eu entendo muito bem o que co- dependentes relatam, por que sou uma também... É duro amar desmedidamente, colocando a outra pessoa sempre em primeiro lugar em nossas vidas, mesmo que não queiramos. Pensamos que estamos dando o nosso melhor, empenhando-nos ao máximo para ajudá-los, mas eles não aceitam a nossa ajuda. Eles não querem ser ajudados e nem se ajudarem.. Eles preferem o lado obscuro da obsessão e da compulsão, mesmo sabendo que não estão se matando sozinhos. Quando fracassam, levam consigo um pouco de nós e a nossa esperança de vê-los desfrutando uma vida melhor; bem diferente do que estão vivendo. E, o que mais queríamos, era termos o dom de modifica-los, mas não podemos. Choramos, nos anulamos e nos perdemos, para percebermos que somos tão impotentes perante eles, quanto somos em relação ao sol, a chuva e aos efeitos naturais da vida. Precisamos soltar as amarras, mesmo nos desesperando a cada abertura de nó que nos prende à eles. Precisamos libertá-los para que possamos respirar profundamente, e seguir as nossas vidas. Por que embora não pareça, ainda temos uma vida, mas não a vivemos... Não podemos morrer aos poucos por quem não quer aceitar viver dignamente. Só podemos orar, e tratar com mais atenção as nossas profundas feridas. Amamos demais, por que somos co- dependentes inveterados. Somos adoráveis réus confessos. Muitos julga-nos, mas e daí? Só quem sabe como é ver a vida de cabeça para baixo, escorrendo por entre os nossos dedos, entende-nos quando dizemos: Eu daria tudo por ele, e faria qualquer coisa para viver um períodozinho da vida com só um tiquinho de paz... Mas, até quando nos contentaremos com a migalhas? Podemos nos fartar de um banquete, ou vivermos exatamente das sobras deste nosso amor doentio que sentimos e pelo desprezo que alimentamos por nós e pela nossa incapacidade de mudar o jogo da própria vida.

Darléa Zacharias

Texto com direitos autorais:

Trecho do livro "Drogas a apnéia da vida" ainda em fase de edição, aguardem.



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